Insurtechs ganham terreno com foco em inovação e prestação de serviços ao cliente
O surgimento de novas empresas, em geral de pequeno porte e com foco em inovação tecnológica tanto na gestão de riscos como na prestação de serviço ao cliente, tem ajudado a democratizar o acesso aos seguros ao explorar nichos que não são visados pelos grandes grupos. Essas estreantes aproveitaram o Sandbox Regulatório – período de testes em que as regras de operação são flexíveis – lançado em 2020 para começar a operar e já são 15% do mercado.
“Isso é bastante relevante em termos de concorrência”, destaca a diretora da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Júlia Lins. Ela destaca como exemplo de novos produtos os seguros lançados para entregadores e motoboys, sujeitos a maiores riscos de acidentes pessoais. Os ramos de seguros que mais se destacam no programa são para carros, celulares, notebooks, tablets, câmeras e outros aparelhos eletrônicos, assistência e outras coberturas, como responsabilidade civil facultativa e acidentes pessoais.
O edital da terceira edição do Sandbox foi publicado em julho passado. As empresas ficam até 36 meses sob um regime mais flexível de atuação e dentro desse prazo podem pedir o registro definitivo como seguradora. Até abril, os prêmios emitidos pelas empresas participantes somaram R$ 145,8 milhões. O montante não chega a 1% do total de prêmios emitidos pelas seguradoras no ano passado, mas as insurtechs, como são chamadas as startups do setor, trazem um efeito de dinamização do mercado.
Esteves Conalgo, diretor de relações institucionais da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), destaca que as tecnologias trazidas por essas novas empresas são importantes para dar mais acesso aos seguros, reduzindo seu custo associado. A tecnologia, ao permitir que o celular seja usado para alcançar o segurado, está permitindo uma mudança no perfil do setor no Brasil, marcado por empresas ligadas a instituições financeiras. “Seguradoras de médio ou pequeno porte conseguem ter um canal de desenvolvimento”, observa Conalgo.
O executivo aponta produtos para obras públicas, concessões e parcerias público-privadas – na esteira do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) -, seguros contra riscos cibernéticos, coberturas relacionadas a mudanças climáticas e o ramo rural entre aqueles com perspectivas de crescimento. “Para mudanças climáticas, há produtos que podem ser desenvolvidos, como de atendimento à população que sofreu alguma calamidade e seguro para infraestruturas urbanas”, afirma.
O relatório final do grupo de trabalho “Seguros, Novo PAC e Neoindustrialização”, publicado pela Susep em março, mapeou oportunidades de melhorias relacionadas aos seguros para apoiar os investimentos previstos pelo governo. Seguro garantia, responsabilidade civil geral, riscos de engenharia, riscos operacionais/nomeados e transporte foram considerados os mais relevantes.
Apólices para criptomoedas e para os impactos do uso da inteligência artificial são apontadas por Thiago Junqueira, advogado e professor convidado da Fundação Getulio Vargas e da Escola Nacional de Seguros, como ascendentes no mercado. “Há um uso crescente de inteligência artificial para personalização de produtos, análise de dados em tempo real e automação de processos no setor”, diz. Especialistas destacam ainda a segurança cibernética como uma tendência no setor.
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